* O texto contém spoiler (o mínimo possível - mesmo) e trata-se de uma opinião pessoal da autora a respeito da produção “As Five”, da Globo Play.
Todo mundo quer saber o que fazer depois que conclui o ensino médio. E não está sendo diferente para as five de Cao Hamburger. Na nova série que estreou na quinta-feira (13) na Globo Play, Benê (Daphne Bozaski), Keyla (Gabriela Medvedovski), Tina (Ana Hikari), Lica (Manoela Aliperti) e Ellen (Heslaine Vieira) se reencontram para o fatídico fim de um ciclo. E mesmo sabendo que a vida nos leva por rumos totalmente diferentes, nenhum telespectador poderia esperar que as cinco garotas estariam sem se falar por, pasmem, TRÊS anos.
O primeiro episódio intitulado “O nome”, questiona, ainda que pouco o por que de “as five”, nome que foi dado inicialmente ao grupo de WhatsApp que as personagens interagiam.
Com uma trama densa, que confesso, me deixou diversas vezes tensa e posteriormente me fez relaxar a ponto de quase chorar, Cao conseguiu manter a essência das agora jovens-adultas, se é que pode-se dizer assim.
Lica:
Ela sempre foi a mais rebelde do grupo, perdida, intensa e muito profunda. A Heloísa é uma personagem a se desbravar, tem muito para se descobrir. E neste primeiro episódio em específico, tem uma cena dela com a Benê, que nos faz querer colocá-la em um portinho, e conseguimos ver o que atrai tantos seguidores para a santa Lica. Além de claro, ela representa o público LGBT, tão carente de conteúdo, não podemos deixar de dizer que representa muitíssimo bem. Para mim, um dos maiores ganchos da Lica, com certeza não vai ser levantado por nenhum outro conteúdo, mas foi a dúvida: Afinal, Lica agora se entende como lésbica ou ainda como bissexual? Talvez até como pan? Talvez isso seja explorado mais para a frente. Saberemos. Ou não. Um spoilerzinho, as limanthas shippers apesar de sofrerem devem estar felizes, porque obviamente a aproximação vai rolar. A química ali é inegável.
Ellen:
Complexa. Indecifrável. Esses são os termos para definir a Elen. Engraçado, eu poderia falar da Benê dessa forma, por ela ser mais fechada, ou da Lica, por ela ter vários relacionamentos vazios para suprir uma falta, mas não. A Ellen não se mostra de fato. Ela se esconde atrás dos estudos. Sabemos que a nossa nerdzinha AMA de fato estudar, mas ela não parece conseguir encontrar tempo para ver o mundo, mesmo quando ela conseguiu atravessar ele. Ela é genial, mas me parece que se coloca na posição de sempre precisar provar ser genial. E é isso, a sociedade sempre coloca nós mulheres pretas nesse lugar. Até mesmo como não merecedoras de amor, por isso talvez seja tão difícil pra ela se entregar para um relacionamento real. Mas vai Ellenzinha, go girl! O gancho da Ellen, não precisamos nem comentar, né? Vai rolar um romance? Eu quero e aí?
Benê:
Preciso parabenizar Cao, pela forma não capacitista com construiu e continua desenvolvendo a Benedita. Eu mesma me pego cometendo esse ato falho ao assistir. Paro, penso duas vezes e digo para mim mesma: isso é um discurso capacitista, ela pode fazer isso, assim como também pode não fazer e você não precisa ficar penalizada. É assim que as five a tratam. A relação mais profunda da Lica e Benê foi uma grata para mim e uma aposta assertiva. São personagens com questões complementares, dilemas distantes, mas ao mesmo tempo próximos, e que podem contribuir muito na evolução individual respectivamente. Por fim, a Benê, não foi surpresa. Ela está exatamente onde eu achei que estaria. É focada, determinada, e sempre soube o que queria. Ela é aquela coleguinha que saiu do médio com a vida planejada e que morou certo. Às vezes dá certo. O gancho aqui, foi o carinha da frente, e essa abertura para conhecer pessoas, estou empolgada.
Tina:
Ai, Tina, o que está acontecendo? A vida dela fluiu muito bem, a carreira, o amor, a família, mas claramente tem algo incomodando a Tina. Além dos traumas deixados pela Mitsuko, pairou durante o episódio todo um mistério no ar, tanto sobre a relação dela, quanto sobre a mãe, família, carreira. As coisas não estão boas e a Tina está precisando de ajuda. Acredito que essas questões da Tina venham se desenvolvendo desde Malhação Viva a Diferença - MVAD, como é chamada pelos fãs -, e crescendo como um monstrinho. Eu não consegui ir muito além para escrever sobre, porque a personagem estava muito misteriosa. Pistas? Aguardamos cenas do próximo capítulo.
Keyla:
Muito emblemática toda a problemática que envolve a Keyla. Desde, quando ela engravidou, ainda na telenovela, engordou, quis emagrecer, tomou remédios controlados e todas as outras questões, a Keyla já dizia a que vinha. Para mim, as mulheres que a a Keyla representa são extremamente reais. E agora, com o Tônico crescido, 9 anos, tudo isso continua a atormentar. No Brasil, mães, tem muito mais dificuldade de trabalhar, assim como foi quando ela desistiu da escola, no início. É tudo mais complicado, a vaidade é deixada de lado, o afeto é negado, falta tempo e até mesmo dinheiro. Tem inúmeras questões que eu tenho certeza que magistralmente serão abordadas com a Keyla e aquele menino fofo que é o filho dela, mas o mais importante cadê os pais dessas crianças? Será que o Tônico virou mais uma estatística de criança com pai só na certidão? Ou pai só de final de semana? Ansiosa!
Com tanto gancho maravilhoso, só nos resta esperar até a próxima quinta-feira (19), para assistir o segundo episódio, dos dez da temporada inicial, de As Five, no Globo Play.